No início de abril foi lançada a Frente Parlamentar Mista da Educação no Congresso Nacional. A associação suprapartidária de deputados federais e senadores (por isso ‘mista’) tem por objetivo pôr em pauta temas cruciais para mudar a qualidade da Educação brasileira. Diferente de Frentes de mandatos anteriores, a atual terá seu trabalho estruturado em 10 comissões focadas em temáticas importantes para a área, como a de Arranjos Federativos da Educação, coordenada por Luisa Canziani (PTB-PR). Ela é mais uma dos entrevistados na série #EducaçãoNaFrente, do Todos Pela Educação, com a presidente, os vices e os coordenadores da iniciativa.
+LEIA MAIS: FRENTE PARLAMENTAR MISTA DA EDUCAÇÃO É LANÇADA NO CONGRESSO
Todos: O que a Educação representou em sua trajetória pessoal?
Luisa: AEducação sempre foi o valor mais cultivado dentro da minha casa e isso se transferiu para todas as esferas da minha vida. Tive a oportunidade de estudar em boas escolas e nas melhores universidades do País e posso afirmar com veemência o impacto positivo e significativo que isso teve na construção da minha trajetória pessoal, profissional e política.
Educação abre portas. Para mim, abriu as portas do Congresso Nacional e me possibilitou ser a deputada mais jovem desta legislatura e a mais jovem presidente de Comissão da história da Câmara dos Deputados. Por outro lado, a falta de Educação de qualidade para todos tem o poder inverso e pode fechar muitas portas para as crianças e jovens brasileiros. Assim, Educação se tornou, pra mim, algo muito além de aprendizado, de qualificação. Tornou-se bandeira, norte e horizonte das minhas lutas e ações.
Todos: Qual sua análise sobre a situação da Educação no Brasil?
Luisa: Os avanços são inegáveis, mas temos problemas estruturais que precisam de soluções. Mais de dois milhões de crianças ainda estão fora da escola. Das que estão, cerca de 55 milhões não sabem ler nem escrever. Entre os jovens até 25 anos, o número de não matriculados passa dos 25 milhões e a taxa de evasão escolar é de 11% no Ensino Médio. Nós também investimos pouco em nossos alunos. Um aluno brasileiro até a 5° ano custa US$ 3,8 mil por ano. A média da OCDE é de U$S 8,7 mil. No Ensino Fundamental e no Médio, o valor desembolsado no Brasil se mantém, enquanto na OCDE aumenta para US$ 10,106 mil. Com isso, nosso País figura entre os últimos colocados no ranking de investimento em ensino primário (Fundamental) e secundário (Médio).
Nem no Ensino Superior, que recebe a maior parte da parcela do investimento destinado para Educação, chegamos ao patamar de países desenvolvidos. Um aluno universitário custa US$ 11,666 mil no Brasil, mas continua abaixo da média da OCDE, de US$ 16,143 mil por aluno.
A produtividade dos alunos e professores é baixa na Educação Básica. Cerca de 20% dos professores não atingiram a nota mínima no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No último Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), dos 70 países participantes, a melhor nota brasileira é em leitura – 59º posição – , em ciência, estamos em 63º lugar e, em matemática, 66º. Os dados evidenciam uma realidade já conhecida pelos alunos e pais do Ensino Público: precisamos de mais investimento, adequação curricular e formação continuada de professores. Não há saída fácil para resolver o problema da Educação. E sem políticas públicas, não há resultado.
+LEIA MAIS: CONSED E UNDIME DIZEM PORQUE A FRENTE PARLAMENTAR MISTA DA EDUCAÇÃO É IMPORTANTE
Todos: Quais são suas expectativas para os trabalhos da Frente Parlamentar Mista da Educação? Que benefícios ela pode trazer para a Educação?
Luisa: É de suma importância termos uma frente parlamentar que defenda a Educação. Como legisladores, nós temos o dever de fiscalizar as ações do Executivo e propor solução para problemas que a sociedade enfrenta. E quando vários parlamentares se unem para lutar por uma bandeira, o País todo ganha. Temos o dever de construir consensos, de colocar o bem-estar dos nossos alunos em primeiro lugar e de garantir iguais oportunidades para garantir que cada criança e que cada jovem brasileiro possa construir o próprio futuro, que tenha o poder de escolha e que siga sua vocação. Educação abre portas e precisamos garantir que elas estejam abertas para os nossos estudantes se desenvolverem.
Todos: Você é coordenadora da temática Arranjos Federativos. Qual seu envolvimento com esse assunto e porque ele é importante para o País?
Luisa: Sou do Norte do Paraná e conheço os problemas que os gestores enfrentam para conseguir liberação de verbas, fazer aquisições, contratar pessoal. Muitas vezes, um município pequeno não pode arcar com laboratório de química de informática, por exemplo. Mas quando há colaboração intermunicipal, esse tipo de investimento se torna possível.
Também temos a questão da troca de experiência entre gestores educacionais e professores. Na era da informação, o professor ainda é o profissional que menos compartilha sobre gestão pedagógica, de recursos, de modelos educacionais. Por isso, a Comissão de Temática de Arranjos Federativos vai focar nos modelos de colaboração e experiências recentes, na capacidade municipal de financiamento e nas boas práticas de gestão pedagógica, formação docente, gestão de recursos financeiros e técnicos.